Professor Rocha Armada nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril
Ditadura do digital faz perigar a liberdade e a democracia
A ditadura do digital é uma das grandes ameaças atuais à nossa liberdade, 50 anos depois da
Revolução do 25 de Abril, que derrubou o Estado Novo, com todas as suas arbitrariedades em
relação aos direitos, liberdades e garantias.
O alerta foi lançado pelo Professor Doutor Rocha Armada, no decorrer de uma conferência na
Casa do Conhecimento de Ponte da Barca, subordinado ao tema “Viagem no tempo: do Estado
Novo à Revolução dos Cravos e às conquistas de Abril”.
Inserida nas celebrações dos 50 anos de Abril, promovidas pelo Município, a sessão foi aberta pela
Vereadora da Educação e Cultura que, depois de saudar o público e de proceder ao
enquadramento da iniciativa, apresentou o convidado, com um vasto currículo académico-
científico e uma notável ação à escala global, em termos de formação nas áreas da gestão e da
liderança.
Já medalhado pelo Município e homenageado pelo Rotary Club de Ponte da Barca, Rocha Armada,
para além de investigador e orador convidado em grandes eventos internacionais, tem a
particularidade rara de ter vivido como militar o antes, o 25 de Abril e o depois da Revolução, pelo
que é uma honra e um enorme privilégio contarmos com a presença do Senhor Professor, um
homem com ligações familiares a Ponte da Barca – referiu Rosa Maria Arezes.
Na sua intervenção, o convidado abordou o tema, mas fez questão de ir além e de chamar a
atenção para as ameaças que, na atualidade, põem em causa as conquistas de Abril, tais como a
democracia e a liberdade.
A Revolução dos Cravos cumpriu a sua missão há 50 anos, com os capitães e o Movimento das
Forças Armadas a derrubarem a ditadura e a proclamarem a liberdade. Acontece que, passadas
cinco décadas, são muitas as ameaças da ditadura do digital, com os algoritmos e a Inteligência
Artificial a orientarem os nossos comportamentos e a manipularem as nossas decisões, explicou
Rocha Armada.
Em última instância, com a utilização abusiva dos nossos dados pessoais, não só a nossa
privacidade desaparece, como a nossa própria liberdade e poder de decisão são postas em causa,
fazendo perigar os regimes democráticos, muitas vezes sem que as próprias pessoas tenham
consciência disso.
A Democracia, a Liberdade e o Desenvolvimento são um trabalho diário
Sempre num registo muito cativante, com recurso frequente a episódios pessoais e à
extraordinária experiência da sua vida, o Professor Catedrático Jubilado e antigo Presidente da
Escola de Economia e Gestão da UMinho fez uma viagem pelas suas memórias, recuando aos
tempos de estudante universitário e do serviço militar, entre 1973 e 1975, como oficial miliciano
de transmissões do exército.
Lembrou as arbitrariedades e proibições do Estado Novo, o poder omnipresente da censura e do
medo, a miséria e o atraso do tempo de Salazar, a emigração, o desgaste e descontentamento
gerados pela Guerra Colonial e as primeiras manifestações contra o regime ditatorial, do meio
académico ao Golpe ou Levantamento das Caldas, cujas movimentações intercetou, ao nível das
telecomunicações, a partir do quartel em Mafra.
Até que, agora já no quartel em Tomar, chegou o 25 de Abril e a alegria da participação nas
celebrações do 1.º de Maio, atitude de Rocha Armada que lhe valeu um castigo e que, não fora a
intervenção do General Spínola, poder-lhe-ia ter custado a despromoção, com tudo o que isso
significaria de penoso, tanto mais que estava prestes a partir para Angola.
E dos tempos de Angola, recordou a passagem pela selva e, depois, a guerrilha urbana em Luanda,
quantas vezes debaixo de fogo cruzado entre as tropas do MPLA e da UNITA, e falou da
descolonização e do êxodo de centenas de milhar de portugueses que regressaram a Portugal,
numa situação muito difícil.
Já no período de interação com o público, Rocha Armada respondeu às questões colocadas,
reiterando que Abril se cumpriu há 50 anos, naquele radioso dia 25, com a proclamação da
liberdade e a devolução ao povo da sua capacidade de decidir, num regime em que há respeito
pelos direitos, liberdades e garantias. Mas os desafios continuam, mais ainda agora com a ditadura
do digital, insistiu.
Quanto à Descolonização, defendeu que se realizou dentro das condições possíveis, num
ambiente de enorme instabilidade, mas – na sua opinião – foi o mal menor. O Desenvolvimento,
esse continua em curso. Os progressos económicos e sociais da nossa Democracia são notáveis,
mas os descuidos pagam-se caros, como aconteceu, por exemplo, no período a seguir ao 25 de
Abril, em que os desmandos da época quase levaram Portugal à bancarrota e conduziram ao
pedido da primeira intervenção de ajuda externa do FMI, concluiu Rocha Armada.