POEMA "CARTA, O MEU DESABAFO"
Opinião
Publicado em 23/09/2024

POEMA "CARTA, O MEU DESABAFO"

Meu querido amigo
Eu preciso desabafar,
Porque o tempo passa
E eu não deixo de chorar.
 
Eu choro de tristeza
E de revolta também,  
Ao ver por quantas lutas 
Já passou a minha mãe.
 
Sei que muitos te culpam
Mas eu nunca te culpei,
Mesmo no dia
Que o meu pai encontrei.
 
Aquela triste imagem
Não sai do meu pensamento,
Nem a imagem dos bombeiros
Que ali estavam no momento.
 
Aquele calor horrível
Derretia ferozmente,
Aquele ser humano
Que me abraçava fortemente.
 
Era grande o desespero
Difícil de imaginar,
E é com estas imagens 
Que eu tenho de lutar.
 
Meu pai, um homem correto
E tao cheio de valores,
Foi engolido pelas chamas 
Sofrendo horríveis dores.
 
Junto ao corpo do meu pai
Estavam bombeiros a morrer,
Também eles não mereciam
O que estava a acontecer.
 
Eles foram chamados
Para a luta de todos os anos,
Para que com a sua bravura
Pudessem amenizar os danos…
 
Também eles perderam a vida
Pelo juramento que fizeram,
Enquanto grandes senhores
Dessa maneira enriqueceram.
 
Tantas famílias destruídas
Tanta fome e miséria,
Mas rapidamente esquecem
Esta verdade tao séria.
 
Só lembram estas tragédias
Aqueles que foram afetados,
E  nas suas misérias
Tantas vezes ignorados.
 
Custa muito perder,
Uma pessoa doente,
Mas custa muito mais
Quando se perde num acidente.
 
È uma dor incomparável
Que não dá para esquecer,
Quando combatem incêndios
E tentam sobreviver.
 
As chamas violentas
Acabam por os cercar,
 Eles sabem que a vida
Ali mesmo vai terminar.
 
Saem de casa  sem pensar
No que pode acontecer,
Ou se os seus familiares
Poderão voltar a ver.
 
Eu fiquei pequenino
Quando comigo aconteceu,
E ver o meu pai queimado
Foi o que mais me doeu.
 
 Passados tantos anos
Tudo continua igual,
Dói muito quando volto
Ao meu cantinho, que é Portugal.
 
Ninguém é punido,
Por fazer estas maldades,
Os incendiários são malucos
E quem os julga, são cobardes.
 
Nada pode ser mais valioso
Que a vida de um ser humano,
Mas estas tragédias
Ceifam vidas todo o ano.
 
As mãos humanas
Teimam em destruir,
O mundo tao belo,
Que Deus quis construir.
 
Porquê tanta ganancia,
Tanto ódio e rancor,
Quando aquilo que precisamos
É que haja paz e amor.
 
Perdoa meu querido amigo
Este meu desabafo,
Mas o meu coração
Precisa de libertar espaço.
 
Mas, diz-me meu amigo,
Que poderei eu fazer,
Para que os incendiários
Seus crimes deixem de cometer?
 
Faz-me voltar ao passado
Ver toda esta situação,
E volta a sangrar a ferida
Que tenho no coração.
 
Minha vida só tem sentido
Quando estás perto de mim,
Bendito e louvado sejas
Pelos séculos sem fim.
 
O conteúdo desta carta
É mesmo de arrepiar,
E peço mesmo a Deus
Que nos faça despertar.
 
Despertar para esta miséria
Que traz tanto sofrimento,
Estamos a destruir o tesouro
De onde vem nosso sustento. 
 
Esta carta aqui descrita 
Que a Jesus, foi dirigida,
Deve mexer de algum modo
Na minha e na tua vida.
 
Tantas vezes culpamos Deus
Pelo que, de errado acontece,
Quando ele, que é o único
Sempre atento á nossa prece.
 
Mas Deus criou-nos livres
E deu-nos a capacidade,
De sabermos distinguir
Entre a honestidade e a maldade.
 
Ele, mostrou-nos toda a beleza
Que o seu Coração encerra,
Deu-se como alimento
Á humanidade de toda a terra.
 
Só que a ganância e o poder
Pelos bem materiais,
Vai-nos deixando cegos
Cada dia um pouco mais.
 
Ele criou-nos livres
Para nossa felicidade,
Mas ninguém soube fazer bom uso,
Dessa dita liberdade.
 
Por isso eu te peço meu Deus
Que tuas bênçãos sejam derramadas,
Sobre todas as famílias
Pelo mundo, espalhadas.
 
Peço por todos os bombeiros
Vítimas da maldade humana,
Que fiquem livre de perigos
Causados por gente desumana.
 
São eles as maiores vitimas
Perante esta situação,
Que eles diariamente estejam 
Sobre a tua proteção.
 
Que acalmes os corações
Dos familiares em sofrimento,
E que haja nos criminosos
Um pouco de arrependimento.
 
Perdoa Senhor Jesus
As nossas más ações,
Que sejamos sempre capazes
Das melhores decisões.
 
Inunda Senhor Jesus
O coração de todos nós,
Com aquele terno e doce amor
Que só se encontra em Vós.

Ana de Ribas


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