Conversas entre Cafés” debatem Violência no Namoro
A problemática da violência nas relações interpessoais, com especial destaque para a violência no namoro,
esteve no centro de um colóquio muito interessante, que aconteceu no âmbito do ciclo “Conversas entre
Cafés”. Sob a moderação da Vereadora da Educação e Cultura, Rosa Maria Arezes, a sessão teve como
convidadas Elsa Dourado, Analista Comportamental, e Mariana Falcão, Pedopsiquiatra, e registou uma
participação alargada, salientando-se a presença de jovens e educadores e ainda da Vereadora Diana
Sequeira.
Das intervenções iniciais e do debate entretanto desenvolvido resultou a mensagem de que cada ser humano
transporta uma impressão digital única que o faz uma pessoa singular, moldada pela sua experiência de vida
e pelas narrativas, quantas vezes inadequadas ou até disfuncionais, com que se foi confrontando, ao longo
da vida.
Daí que todas as emoções e sentimentos sejam possíveis, desde os mais nobres aos mais baixos e indignos,
como a raiva, o ódio e a violência. O importante – segundo as especialistas – é que cada pessoa tome
consciência dos seus sentimentos e emoções e assuma que o que o distingue de qualquer outro ser vivo é a
sua capacidade de decidir, de optar.
Neste contexto, foi realçada a importância do diálogo, da partilha, da comunicação entre as partes,
nomeadamente entre os namorados e os casais, procurando que a relação seja construída a partir do desejo
de ir ao encontro do outro, em vez de se estar a projetar e a exigir do outro o preenchimento do meu eventual
vazio interior.
A este propósito, “Conversa entre Cafés” proporcionou um interessante e produtivo diálogo sobre alguns
comportamentos que ilustram situações de violência, a que importa colocar um travão.
Formas de violência inaceitáveis
Entre essas manifestações de violência, que infelizmente a maioria dos jovens até considera normais, foram
comentados o ciúme, a manipulação, a chantagem emocional, o controlo do vestuário, dos amigos, dos
movimentos, dos contactos sociais, das mensagens de telemóvel, das redes sociais do parceiro, os insultos e
os recorrentes comentários negativo.
Nas palavras das convidadas, estas manifestações abusivas, de clara violência psicológica, devem ser
travadas, porque, acima de tudo, manifestam um problema da parte do agressor, ao nível da insegurança
pessoal, baixa autoestima, vazio interior.
Acontece que, muitas vezes, as pessoas se acomodam e não se insurgem contra este ciclo abusivo de
violência porque todo o ser humano coloca reservas à mudança e tem medo do desconhecido e, por isso, não
tem coragem para dizer “basta”.
Este é um desafio para todos nós, em termos de cidadania, até porque a violência doméstica (e a violência no
namoro) é um crime público, e por isso, qualquer pessoa pode apresentar queixa-crime contra o agressor.
Segundo as especialistas, este tipo de violência é já uma realidade preocupante, com o perigo acrescido de
se tender a normalizar esta prática de relações imperfeitas, com doses de violência psicológica e física
inimagináveis.
Muitos dos jovens cresceram num ambiente familiar violento, pelo que se limitam a reproduzir o padrão que
conhecem e, se não forem travados a tempo, podem ficar agressores a vida toda, tal como as vítimas
também podem nunca mais deixar de o ser, se não foram apoiadas a interromper esta espiral de violência,
explicaram Elsa Dourado e Mariana Falcão.
Daí que ambos – agressor e vítima – necessitem de um acompanhamento especializado, que os ajude a
compreender que atitudes como a agressão, o insulto, a ameaça, a pressão, a chantagem, a humilhação, a
proibição nunca se legitimam, ainda que sejam protagonizados pelos heróis de séries e do cinema em geral,
com grande êxito entre os jovens.
Neste contexto, as especialistas – elogiando o muito que as escolas já fazem neste âmbito – sublinharam a
urgência de se reforçar uma intervenção em idades precoces, orientada para os princípios nucleares de um
namoro que se deseja gratificante e feliz.
A Escola investe muito no desenvolvimento cognitivo e na vertente da formação científica das nossas
crianças e jovens, mas a dimensão emocional e da saúde mental positiva tem de ser igualmente trabalhada,
porque esta é que nos estrutura como pessoas, com tudo o que isso implica para a gestão do dia a dia e a
construção de uma vida feliz.