COMUNICADO À IMPRENSA
De Viana, para Viana: é preciso honrar a tradição com quem a vive
O movimento “Somos Todas Mordomia”, constituído por mulheres vianenses que
recentemente se manifestaram quanto ao processo de inscrições para o Desfile da
Mordomia 2025, vem, por este meio, clarificar publicamente a sua posição.
Esta iniciativa não visa gerar polémica, nem confrontar qualquer entidade. Nasce, isso
sim, de uma vontade legítima de assegurar que as mulheres de Viana do Castelo - naturais,
residentes, ou com laços familiares e culturais profundos - possam continuar a participar
numa das tradições mais emblemáticas da Romaria d’Agonia.
Importa esclarecer que o nosso movimento não é composto apenas por “mulheres
excluídas”, como sugerem algumas notícias, mas por mulheres diversas, algumas que
conseguiram inscrever-se e outras que não tiveram essa oportunidade. Estamos unidas
por um propósito comum: a defesa do nosso lugar numa tradição que nos pertence.
As inscrições para o Desfile da Mordomia abriram à meia-noite do dia 16 de junho, com
um limite de 1000 vagas, número inédito. Para surpresa geral, estas esgotaram-se em
pouco mais de 48h. Muitas mulheres vianenses tentaram inscrever-se no dia 18, terceiro
dia do processo (que deveria estender-se até 30 de junho), e depararam-se com o
encerramento antecipado das inscrições. A comunicação oficial das inscrições encerradas
surgiu apenas às 21h desse mesmo dia — gerando frustração e indignação entre quem, de
boa fé, contava ainda poder participar.
No dia 16 de julho, pelas 20h, foram abertas 32 vagas adicionais. No entanto, permanece
por esclarecer como foram preenchidas, sendo que algumas mulheres conseguiram
efetuar a inscrição, outras relataram falhas técnicas no sistema, sem qualquer resposta ou
compensação por parte da organização.

É falso que o nosso movimento tenha difundido qualquer tipo de desinformação.
Repudiamos veementemente tais acusações e sublinhamos que quem o possa ter feito não
integra nem representa o movimento Somos Todas Mordomia, nem partilha dos nossos
valores de respeito, união e transparência.
O propósito do nosso movimento é a união das mulheres vianenses, inscritas e não
inscritas, na luta pelo seu direito (que deveria ser intrínseco) a participar no desfile da
mordomia, garantindo que se mantém a tradição por mulheres que fazem e são a tradição
vianense.
Não pretendemos excluir ninguém e acolhemos todas as mulheres, que sentem por Viana
o mesmo amor que nós sentimos, simplesmente queremos salvaguardar a participação das
mulheres que são o rosto da festa e as descendentes de quem começou esta tradição, nas
diferentes freguesias do concelho de Viana do Castelo. O que é certo é que não pode haver
Desfile da Mordomia sem a verdadeira chieira vianense, que só a nós pertence.
Sentimos revolta e indignação pelo facto de, tanto a Viana Festas como o Vereador da
Cultura de Viana, desconsiderarem e desvalorizarem o pesar das mulheres vianenses que
não conseguiram inscrever-se, dizendo-lhes que poderiam participar no próximo ano.
Não podemos permitir a leviandade com que são tratadas as mulheres vianenses que
sempre cumpriram a tradição, com os trajes de família, com o ouro que passou de geração
em geração; as mulheres que desfilam na Mordomia há décadas, ostentando com orgulho
e chieira o património da sua família e da sua cidade.
Foram essas mesmas mulheres que asseguraram que a tradição vianense se perpetuasse
até ao presente, com a participação num desfile que outrora não era tão “apetecível” e
cuja participação foi mendigada pela organização durante muitos anos; que sempre
participaram ativamente, debaixo do sol quente e do calor abrasador, especialmente
quando a organização decidiu, sem as consultar, alterar a hora desfile para a altura do
pico do calor, sem nunca receber algo em troca.

São as mesmas mulheres que agora exigem reconhecimento e respeito, pois participaram
todos os anos de forma fiel, quando a organização pedia a participação para “fazer
número”, e agora são descartadas porque os “números” que a organização almejava já se
encontravam atingidos, não se preocupando essa mesma organização com quem teria
preenchido tais vagas.
Hoje, com a visibilidade trazida pelas redes sociais, o desfile tornou-se desejado por
muitos - o que é, em parte, positivo. No entanto, o crescimento da procura não pode
comprometer a essência do que se celebra.
A Romaria d’Agonia não é um espetáculo de vaidades nem um palco de influências. É,
acima de tudo, um ato de pertença, memória e continuidade cultural.
Sentimos profundo pesar em verificar que a organização se preocupa em internacionalizar
a nossa tradição, como se se tratasse de um desfile carnavalesco, ao invés de preservar a
cultura impregnada em cada traje e cada peça de ouro das mulheres vianenses.
Muitas das mulheres agora excluídas têm desfilado durante décadas, investindo em trajes,
ouro e legado. São famílias inteiras que, silenciosamente, contribuem há gerações para
manter viva a alma da romaria.
Perante isso, este movimento propõe que:
• O processo de inscrição passe, numa fase inicial, a privilegiar as mulheres naturais e/ou
residentes em Viana do Castelo;
• Apenas numa fase posterior sejam abertas as vagas remanescentes a participantes de
outras regiões.
É ainda tempo de corrigir esta situação. Apelamos à inclusão, já em 2025, das mulheres
vianenses que, com orgulho e autenticidade, desejam continuar a representar a sua terra.
A sua presença é essencial. Sem elas, a tradição perde alma, raízes e verdade.
Queremos manter a tradição e poder ser a tradição!
Somos Todas Mordomia!